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Quem me fez, sem registro, 2022
A obra Quem me fez, sem registro (2024), trata sobre a presença das mulheres da minha família na minha criação e a ausência das mesmas em documentos e registros.
Reflete sobre meu nome, Fernanda Mie Kimura, em que não carrego nenhum sobrenome de nenhuma delas, questionando a falta de seus registros, além do fato de elas também carregarem somente os nomes do lado da família paterna e/ou de seus maridos.
Junto aos seus nomes, em cada peça de tecido, bordo memórias afetivas e únicas, que estão no imaginário, ligadas à cada mulher que fizeram parte da minha criação: minha mãe, avó paterna e avó materna. Elementos marcantes da minha infância, assim como seus nomes e o meu, compõem a memorabilia relacionada a cada uma delas.
Além dos laços familiares e ancestrais, e de uma reflexão sobre como a ausência das mulheres nos registros na certidão de nascimento retratam o machismo estrutural, abordo também alguns questionamentos em relação as pautas raciais que venho investigando na minha pesquisa e produção artística.
Minha mãe, Marta Minei foi batizada com o nome japonês Sayuri (muito comum nipo-brasileiros terem nomes brasileiro e japonês), no entanto, para evitar constrangimentos e comentários desagradáveis devido ao racismo amarelo sofrido por asiáticos no Brasil, meu avô não quis registrar seu nome japonês, mesmo usando o dentro de casa e entre familiares e amigos, justamente por tudo que ele vivenciou - por um longo tempo não gostei e não usei meu nome japonês, Mie, por esta razão. Ela carrega apenas o sobrenome da família de seu pai, Minei.
Minha avó paterna, Toshiko Watanabe Kimura, não possui nome brasileiro, pois nasceu na Manchuria (na época, ainda território do Japão). Ela adquiriu o nome do meu avô, seu marido e manteve o sobrenome da família de seu pai, contudo, carrega apenas o sobrenome de seu lado paterno, Watanabe.
Minha avó materna, Anita Tociko (erro de digitação no momento de realizar o registro, sendo o correto Toshiko) Hirata, após seu casamento, optou por retirar o nome da família de seu pai, deixando apenas o sobrenome nome de seu marido, Minei - ficando Anita Tociko Minei. Por ter nascido no Brasil, foi dado a ela um nome brasileiro e um japonês.
Essas três mulheres, principalmente minha mãe, acompanharam e fizeram parte do meu crescimento e criação, deixando fortes traços e rastros na minha personalidade e memórias, em que pude absorver os ensinamentos e a cultura presentes na minha família.
Minha mãe me criou, minhas avós tiveram forte participação e eu não carrego nenhum de seus sobrenomes. Apenas de meu pai. Este é o peso da ausência: de quem me fez, mas sem nenhum registro.
O trabalho é composto por quatro tecidos, cada um com meu nome e os das mulheres da minha família. Eles são interligados numa tentativa de traduzir essas conexões e atravessamentos que existem entre mim e elas. Foram usados tecidos de algodão cru com três tipos de gramatura diferentes, escolhidas minuciosamente, na intenção de aproveitar a transparência dos tecidos, sendo possível ver as ligações e as ascendências através deles e entre eles.
Quem me fez, sem registro, 2024
Bordado sobre algodão cru
Dimensões variadas
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