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Esse, meu traço, 2022
Em Esse, meu traço (2022), a ação do movimento dura 22 minutos (número equivalente à minha idade), em que faço o gesto de puxar os olhos, muito usado como forma de oprimir e constranger pessoas asiáticas pelo fato de termos os olhos mais puxados. Foi uma resposta a um episódio desagradável e embaraçoso em que esse gesto ofensivo foi feito num ambiente inesperado – talvez nem tão inesperado assim, visto que estávamos no meio de uma pandemia, quando atitudes como essas, o ódio, o racismo e os comentários racistas, aumentaram notável e consideravelmente.
E esse mesmo gesto – que atualmente ainda é feito com o intuito de ofender e humilhar –, hoje, está sendo usado constantemente por pessoas, na maioria brancas, como uma pose para fotografias. Existem até procedimentos estéticos, como o Foxy Eyes que, literalmente, deixam os olhos mais puxados, e que estão sendo realizados por essas pessoas.
Neste trabalho, busco trazer a questão de que, para as pessoas que possuem naturalmente esse traço, que têm essa característica dos olhos mais puxados, para as pessoas amarelas, isso é motivo de chacota, discriminação, opressão e ofensa. No entanto, a partir do momento em que uma pessoa branca passa a fazer o gesto – usado somente e sempre com o objetivo de nos insultar e constranger –, ou realizar procedimentos estéticos para dar esse “efeito” dos olhos puxados – Yellow Face –, esse traço passa a ser visto como uma característica bonita, charmosa, diferente.
Durante vinte e dois minutos (período do primeiro até o último momento em que começo e termino de fazer o movimento), faço repetidamente esse gesto, e a cada vez, ao tirar os meus dedos, ficam marcas (feitas com o rastro de carvão nas suas pontas) cada vez mais intensas, pois ele, de fato, nos marca. Marca vinte e dois anos (minha idade na época em que o trabalho foi realiza do) de discriminação. Marca cada pessoa que já foi oprimida por ele, a nossa vida e como vamos reagir a isso no futuro, tocando também em um lugar delicado e doloroso.
Assim como o racismo, e por ser uma ação racista, esse gesto esteve e está presente na minha vida, e com certeza na vida de muitas outras pessoas que fazem parte da comunidade amarela, principalmente as que são imigrantes ou descendentes, no Brasil e em outros países.
Além de tratar de questões como o racismo e esse gesto, meu corpo se faz constantemente presente nesta obra. O corpo de uma mulher nipo-brasileira, marcado por experiências carregadas de traumas e dores de longo prazo.
Esse, meu traço, 2022
Vídeo-performance
22' 30"
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